QUAL A ESCOLHA DA SUA EXISTÊNCIA?
QUAL A ESCOLHA DA SUA EXISTÊNCIA?
(Mensagem Transcrita)
Texto Bíblico: Jeremias 18-19
Jeremias assiste, em estado de tristeza e perplexidade, o fato de que o povo de Israel estava sendo levado para o cativeiro na Babilônia, e, conquanto tal fato ainda não tivesse acontecido, mas estava na inevitável iminência de acontecer, ele sabe que a razão daquele cativeiro decorre de maneira direta do fato de que o povo tinha quebrado toda a harmonia com Deus e uns com os outros; que tinham entrado em um estado de autofagia, de morte, de escolhas suicidas, autodestrutivas.
E o que estava vindo de fora nada mais era do que a conseqüência do que eles mesmos estavam semeando. E a aflição de Jeremias era ver se ele conseguia mudar esse fluxo, se conseguia fazer com que aquele caminho, aparentemente inexorável na direção de algo que lhes faria mal, poderia ainda ser alterado pela via da conversão da mente, pela via do arrependimento, pela disposição de uma mudança de caminho, de uma decisão que tinha que ser individual mas que haveria de se tornar comunal, coletiva, de todo o povo, na direção de que aquele processo inteiro no qual estavam vivendo fosse revertido pelo arrependimento, pela mudança de mente, pela metanóia.
E é por isso que ele insiste de maneira solitária, gritando, clamando, chamando, chorando, implorando, advertindo, colocando-se numa situação de motejo, de graça, na qual ele se transformava em tema de piada, em figura a ser vista apenas em sua estranheza, na sua exoticidade, na sua depressividade melada de lágrimas e na sua voz sempre tomada de nostalgia profética.
E ele, assim, torna-se uma pessoa a ser vista e interpretada como o que se pode fazer tornar-se aos sentidos de todos. Como louco, melhor seria, mas como ele não dá a chance de a loucura ser assim pregada nele como algo que nele se fixe, o que sobra para os demais e descontentes com ele — os quais são quase todos — é tentar minar a autoridade dele, o caminho dele, a vontade sincera dele para com Deus. Então tentam criar urdiduras de todos os modos, tramas, laços, malhas e redes, para ver se o prendem em alguma contradição, em alguma fraqueza, em alguma situação, que o afaste, definitivamente, da possibilidade de ser uma pessoa que exercesse a sua voz contra o fluxo da morte que estava instalado ali.
E no meio de tudo isso, e de tantas falas e situações semelhantes a essa, no capítulo 18, Jeremias ouve outra vez, dentre muitas vezes, a palavra do Senhor, que veio a ele dizendo o seguinte:
Dispõe-te, e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras. Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre as rodas. Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu. Então, veio a mim a palavra do SENHOR: Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? -diz o SENHOR; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel. (18:2-6)
Mais adiante, depois que Jeremias voltou e falou ao povo e às autoridades religiosas tudo quanto da parte de Deus tinha ouvido a partir dessa situação metafórica, simbólica, que se manifestara diante dele lá na casa do oleiro, o texto diz o seguinte:
Então, disseram: Vinde, e forjemos projetos contra Jeremias; porquanto não há de faltar a lei ao sacerdote, nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao profeta; vinde, firamo-lo com a língua e não atendamos a nenhuma das suas palavras. (18:18)
Jeremias ouve isso e diz:
Olha para mim, SENHOR, e ouve a voz dos que contendem comigo. (18:19)
Cada vez que ele profetiza fica pior para ele!
Aí o cenário muda um pouquinho. Ele faz algumas queixas para Deus, sente-se só, abandonado, perseguido, dolorido... Toda aquela coisa que pode acometer a qualquer um de nós, mesmo aos mais conscientes entre nós.
E então vem a ele outra vez uma palavra de Deus ante essa atitude de rejeição explícita, homicida, ferina e perversa das autoridades de Israel após terem ouvido a palavra de Jeremias, que dizia, da parte de Deus, que se alguma coisa tinha se estragado ali, ainda dava jeito, ainda havia chance. Era como se o barro, em estando na mão do oleiro, pudesse ser refeito e renovado, mas eles não quiseram ouvir essa palavra de regeneração, de re-entrega do ser às mãos de Deus para ser refeito. Eles não quiseram abandonar o ídolo da fixidez, da fixação imutável.
E aí vem a esse pessoal uma outra palavra de Deus, pela boca de Jeremias, que já não carrega a maleabilidade; já não carrega a possibilidade da mudança; já não traz o sêmen da mutação, da conversão, do arrependimento, de uma tomada de consciência que mude a existência deles e seja preventiva em relação a um monte de calamidades.
Por causa daquela postura fixa e homicida deles, vem agora esta outra palavra do Senhor:
Assim diz o SENHOR a Jeremias: ”Vai, compra uma botija de oleiro!" (19:1)
Lembrem-se de que no primeiro caso ele vai à casa do oleiro, chega à casa do oleiro e o oleiro está trabalhando. O barro está molhado. O oleiro estava trabalhando no movimento e na dinâmica do ato de fazer um vaso; portanto, essa é uma relação viva entre o oleiro, o barro e a possibilidade de o vaso aparecer. Já nesse segundo caso, não há barro molhado, não há nada em processo, não há nenhuma matéria-prima sendo moldada na mão de Deus. Não há nenhuma matéria molhada o suficiente para aceitar os vergamentos, as flexibilizações, os moldamentos, os surgimentos do novo.
Como eles escolheram a fixidez, a imutabilidade, o carma como existência, o direito perverso como mandamento para a vida, o status quo como vida eterna, poder como se fosse fé e controle como se fosse confiança; como eles escolheram o caminho do homem, que domina, e não o caminho de Deus, que guia; como a escolha deles foi por aquilo que é fixado e controlado por eles e não por aquilo que não está nas mãos de Deus e que não está no controle de nenhum de nós, Deus agora manda Jeremias ir, com algumas das autoridades dos anciãos do povo, comprar uma botija de oleiro.
Já não é mais uma visita à casa da transformação, já não é mais uma visita à casa das possibilidades, já não é mais uma visita à casa da criação; agora já é a visita à casa do souvenir. Já é a visita à casa do fixo, do acabado, do formado, daquele que não tem mais nada a nele ser acrescentado. É a visita à casa do indivíduo que diz: “Eu fiz a minha síntese e ela está fechada!” É botija pronta! É botija seca. É botija fixa! É botija terminada! É botija para consumo. É botija à venda.
“Vai agora e compra!”
Já não é mais “Vai e vê!”
Já não é mais “Vai e olha como o estragado pode ser curado! Vai e vê como aquilo que or um acidente se desmantelou pode ser refeito! Vai e visita a casa de todas as possibilidades e de todas as esperanças", porque os corações dos que ouviram disseram: "Nós não queremos mudança nem que venha das mãos de Deus, e contra quem quer que fale da parte de Deus acerca disso nós tramaremos e forjaremos planos contra ele, porque agora nós é que nos tornamos senhores da lei de Deus, dos negócios de Deus, das coisas de Deus, dos mandamentos de Deus, dos ritos de Deus; ou seja, nós nos tornamos religiosos e gerentes da religião! E esse cara vem aqui, querendo introduzir, a cada dia, a possibilidade de uma mudança, de um vaso novo! Não! Nós não queremos!"
E pelo fato de eles terem escolhido a fixidez, eles recebem o fixo, com todas as implicações do fixo. Com toda a sequidão do fixo! Com toda a imobilidade do fixo. Com toda a inadaptabilidade do fixo. Com toda a possibilidade de quebrar, de partir, de se pulverizar daquilo que é fixo.
O melhor barro, já que barro é barro, é barro molhado! Não existe pior barro do que barro seco! Barro botija! Barro acabado!
“Vai, portanto, e compra uma botija de oleiro, e leva contigo alguns dos anciãos do povo e dos anciãos dos sacerdotes. Sai ao vale do filho de Hinom, que está à entrada da Porta do Oleiro...” — que está do lado de fora! Há aqui um sarcasmo histórico e geográfico, porque o que há de interessante é que ele manda que essa botija adquirida em um lugar de venda de vasos, na presença das autoridades dos anciãos e dos sacerdotes de Israel (os quais foram os mesmos que haviam rejeitado a palavra anterior) seja, com estes, agora levada ao lado de fora dos portões de Jerusalém, para o lado de fora da Porta do Oleiro, que era de onde, antes, ele estivera vendo o movimento maleável de algo que podia, em se estragando, ser refeito. Mas agora a instrução é para que ele não fique na casa do oleiro, mas, ao contrário, vá para o vale do filho de Hinom, que hoje é um vale muito bonito em Jerusalém, mas que desde tempos imemoriais era um lugar estranho, maligno, assombrado, do ponto de vista da percepção psicossocial do povo.
E por quê?
Porque era um vale onde muitos reis de Israel tinham imolado seus filhos e os oferecido em sacrifício a Astarote, a Moloque, a Baal, aos deuses do imediato. E se tornara um lugar marcado por este estigma da morte. Um lugar onde as pessoas sofriam do surto de que era possível, levando o próprio filho, fazer uma barganha com a divindade; com divindades que, em fazendo barganhas com o filho de alguém, só pode ser o diabo. Mas isso tudo era para manter o fixo:
“Eu dou meu filho, mas tu não me tiras o reino!”
“Eu dou meu filho, mas tu me fazes ganhar esta guerra!”
“Eu dou meu filho, mas eu quero como garantia a imutabilidade do meu poder!”
E aí Jeremias recebe a instrução para não ficar na Porta do Oleiro como antes, mas ir para o lado de fora, para esse vale, que, mais tarde, no Novo Testamento, passou a dar apelido simbólico àquilo que nos dias de Jesus se chamava de Inferno!
Vale de Hinom, que era o lugar onde se queimava o lixo da cidade depois de um tempo. Ele ficou tão maldito que virou “lixão”!
Geinom = Vale de Hinom, de onde acabou vindo a perversão, com o ganho de uma conotação à palavra que se tornou geinom, geena, inferno, na tradução. Porque era um lugar da queimação do lixo, onde o fogo não cessava, e cresceu no imaginário do povo como o lugar do inferno, geena.
É lá pro Geena, pro Geinom, pro vale do filho de Hinom, pro lugar da barganha, para o lugar do negócio com os deuses da morte, da fatalidade, da fortuna, da mágica, da troca, da negociação perversa, do “toma lá, dá cá”, de um vínculo com uma divindade extremamente maligna porque vem a se saciar apenas com sangue humano, bens humanos, e que introjeta na alma humana a vontade de autonomia fundada numa relação mecânica com uma suposta divindade que, em sendo atendida em determinados ritos, realiza mecanicamente o desejo do ofertante; portanto, são as divindades da garantia do fixo.
“Vá lá! Com esse vaso pronto, acabado; e quando tu chegares lá, depois de dizeres algumas palavras...”
No Capítulo 19, versos 10 e 11, lemos:
Então, quebrarás a botija à vista dos homens que foram contigo e lhes dirás: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Deste modo quebrarei eu este povo e esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se, e os enterrarão em Tofete, porque não haverá outro lugar para os enterrar.
Do ponto de vista histórico, o contexto imediato do que aqui estava sendo descrito tem riquezas tão grandes que se eu fosse falar a respeito nós não sairíamos daqui hoje. Mas meu objetivo mais simples é simplesmente ver se a gente aprende o princípio, porque o princípio é imutável.
O princípio espiritual está estabelecido. Os aplicativos é que podem variar de geração para geração, de tempos em tempos, de eras em eras, mas o princípio não muda!
Que princípio é este que está sendo anunciado e enunciado ali?
Primeiro: neste mundo caído, ambíguo, relativo, marcado por morte, por contradições, há desfazimento, há desmantelamento, há perda de forma, há desconstruções, há momentos em que a gente pensa que aquilo que estava ganhando determinadas formas e significados para nós subitamente se perde. Há momentos nos quais aquilo que a gente chamava de bom, de repente, por alguma razão, por algum acidente, por algum movimento, por alguma rotação, por algo brusco, por qualquer que seja a circunstância, se desfaz! É algo normal! Acontece!
É normal que a vida que se oferece a Deus como um barro maleável sem dizer “Eu sou assim”, “A minha forma é esta”, “Faze-me deste jeito”, “Configura-me desta forma”, sem oferecer projetos, nem maquetes, nem croquis ao Criador. Ao contrário, a existência que chega absolutamente leve, tranqüila, entregue, sabendo que ela própria não é auto-existente: se ela é barro, é porque ele criou o barro; se ele está úmido e pronto para ser maleável, é porque a graça divina o tornou assim, capaz da flexibilidade, e, portanto, eu não posso ter idéias a dar a Deus, não posso ter esquemas a oferecer a Deus, não tenho projetos a apresentar diante dele.
Eu tenho apenas a mim mesmo, melado, molhado, entregue como massa primal na mão do meu Criador, sem me sentir acabado; sem desejar ser removido desse lugar de fazimento, maleabilidade, construção artesanal e de manufatura divina. Sem querer ser tirado deste lugar até que eu esteja absolutizado e completado nele. Porque eu sei que no processo, eu, por causa da minha própria natureza, vou ter quebras e vou ter desmontes — vou mudar de formas. Vou precisar de uma ação contínua de sentidos e de significados da parte de Deus me moldando para sempre.
Isso significa arrependimento, metanóia, mudança de mente. Significa ter, conforme Paulo diz em Romanos 12, “a mente suscetível a uma renovação contínua e constante, uma não-fixidez da mente em nenhum padrão”.
Significa não nos conformarmos com este século, com os padrões estabelecidos, com os ícones, com os ídolos, com os panteões, com os elementos fixados, que lutam para que a gente assimile a imagem do ídolo e perca a nossa própria identidade.
Ao contrário, a disposição precisa ser aquela do arrependimento, da renovação do entendimento e da não-aceitação de nenhuma conformação que venha de fora, porque a gente só quer o trabalho da forma de Deus construído em nós a partir da essência para o lado de fora, e que é contínuo e dura para sempre, e acerca do qual a gente tem que dizer: “Eu combati o bom combate, eu completei a carreira, eu guardei a fé.”
Do contrário, a gente vira esse vaso fixo na vitrine da mentira, das vaidades, dos enganos, dos falsos significados, das falsas seguranças, achando que é o poder de controlar a lei, a religião, os ritos, as mecânicas espirituais, os homens... E achando que são as imantações de poderes que a gente recebe, as quais nos são dados por outros, e são frutos das nossas barganhas e negociações das nossas políticas relacionais, que são os elementos importantes e essenciais a serem preservados. Só que são justamente eles que nos tornam a botija fixa da cristaleira da existência, a qual fica pronta para ser partida e não ter mais jeito!
Na vida, a gente tem escolhas!
O que eu estou dizendo é que ou a gente escolhe o caminho da existência inacabada, ou a gente escolhe o caminho da existência supostamente acabada!
Ou a gente escolhe o caminho da viagem sem fim, da mudança nossa de cada dia, da conversão nossa de cada dia, do refazimento da nossa mente, do nosso entendimento a cada dia, da massa molhada da graça, da humildade, da vontade de aprender, de absorver, de assimilar, de ser meladamente transformado nas mãos de Deus e fazer a escolha de não querer ter nenhum outro lugar para ser e existir senão nesse ambiente da mão do Oleiro...
Todo dia e para sempre!
Ou sobra-nos a alternativa da falsa segurança. Da botija que diz: “Eu nasci assim, vou morrer assim, sempre ‘botijela’”.
Sem transformação!
“Meu negócio é salão de exposição! Eu quero ser vaso, mas não nas mãos do Oleiro. Eu quero ser vaso no ateliê da religião, colocado como vaso na vitrine da moral. Quero ser como vaso das aparências. Quero ser como aqueles para quem todos olham e dizem: ‘Este controla a sua própria vida’. Eu quero ser aquele ser invejável pela minha capacidade de autodeterminação e de fixação de meus próprios ideais”.
O caminho pode ser esse, onde você é o oleiro de você mesmo, e onde você é um vaso de autocoletamento de orgasmo narcisista.
Vaso narciso!
Vaso acabado!
Você quer ser um china [um vaso perfeito de porcelana chinesa], no qual não há mais retoques a fazer? Mas se cair no chão e partir, também não há cura!
A escolha da gente é saber se a gente quer estar sempre no lugar da cura ou se a gente quer ficar na nossa fixidez, no ambiente onde o que quebra não tem mais jeito.
Fora das mãos do Oleiro, o que quebra vira caco.
Na viagem da vida, até o último dia da minha existência, eu vou querer que o pedal do Oleiro não pare, movendo esta roda da vida sobre a qual eu estou. E eu pedirei a Ele que o barro do meu ser seja capaz de mudança ainda no último segundo de minha existência.
Que nada se fixe em mim!
O meu pedido a ele é que nada me remova dessa roda da graça e da misericórdia, a qual existe nas mãos do Oleiro.
E que eu jamais caia no engano das falsas seguranças, das botijas supostamente acabadas, vendidas nas vitrines das vaidades, e que não aceitam e não querem nenhum tipo de alteração, porque elas simplesmente dizem: “Eu me basto!”
QUAL A ESCOLHA QUE VOCÊ VAI FAZER?
A escolha por ficar nas mãos do Oleiro, a escolha pelo inacabado, pelo flexível, pelo maleável, a escolha pelo regenerável?...
Ou você vai fazer a escolha do fixo, do definido, do acabado, do pintado, do estético, que já não tem mais nada a ser acrescentado, que está posto como um ídolo “imexível” em algum lugar de “reluzência” de engano?
Porque a vida inevitavelmente mostra, tanto para barros em processos como para vasos acabados na presunção de terem sido terminados, que acidentes acontecem. Só que acidentes do lado de cá acabam sendo uma contribuição na roda da mão do Oleiro para que tudo contribua para o bem do vaso que ama a Deus. Mas do lado de lá vira farelo! Não sobra nada!
Portanto, qual a escolha que você vai fazer?
Eu espero que você não se levante e diga: “Forjemos plano contra o Caio! Quem é ele para dizer o que é certo? Quem é ele?”
Você pode até dizer isso, mas saiba que este Caio aqui é apenas um barro usado, gritando de dentro da roda! Feliz com as pedaladas! E não quero nunca estar acabado! Porque, saiba, no dia em que eu disser que estou terminado, esse é o dia da minha morte!
QUAL A ESCOLHA QUE VOCÊ VAI FAZER?
É de aceitar e de buscar, todo dia, a revisão da consciência em fé; deixar o evangelho entrar em você, moldar você... A mão do oleiro formatando você todos os dias! E essa é uma tarefa de humildade existencial constante, porque humilde é aquele que aprende, que se deixa moldar!
E esse é um caminho até o fim da vida! Mas esse caminho da humildade traz dor. Ele implica em você dizer muitas vezes que estava errado. Ele implica em aceitar novas rotas.
QUAL O CAMINHO QUE VOCÊ VAI ESCOLHER ENQUANTO A RODA ESTÁ GIRANDO, ENQUANTO A ÁGUA ESTÁ NA MASSA?
Enquanto o barro está nas mãos do Oleiro, qualquer distorção tem cura, mas se você disser: “Eu não quero as mãos do Oleiro”, “Eu não quero a graça”, “Eu não quero arrependimento”, “Eu não quero consciência”, “Eu não quero conversão”, “Eu não quero crescer”, “Está bom este teto”, “É assim que eu me satisfaço”, “Eu me basto aqui”, “Qualquer mudança ou aventura podem me levar para um lugar de insegurança e eu adoro saber que eu estou fixado e daqui ninguém me tira!” — se esse for o seu caminho, se essa for a sua escolha, meu amigo, vire malabarista, mas a vida não vai deixar, porque as sacudidas que vêm tanto desmancham barros maleáveis como quebram botijas que não têm mais conserto.
E a única coisa que faz diferença é: Onde você está?
Na autonomia das prateleiras da sua própria arrogância?
Ou rodando na graça de Deus, maleavelmente; nas mãos do Oleiro, onde tudo pode ser refeito?
Escolha você conforme a sua consciência.
E escolha conforme a vida.
Oração final:
Que o Senhor eterno, o Deus que é,
que está acima de todo pensamento e reflexão,
explicação, teologia, sabedoria
ou qualquer que seja a viagem humana...
Que o Deus único, vivo e verdadeiro
Que não é encontrado se não se revela,
e que tem se revelado abundantemente a todos nós
pelo seu Espírito;
ao Deus de todos os homens,
ao Deus de toda graça
ao Deus de toda Terra,
a ele, em quem tudo subsiste
e de quem tudo se origina,
sejam a honra, a glória e o louvor
pelos séculos dos séculos.
Que o Espírito dele nos encha de vida
e de disposição de sermos apenas material molhado e maleável
nas mãos do amor de Deus.
Em nome de Jesus,
hoje e sempre,
Amém.
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Mensagem: “QUAL A ESCOLHA DA SUA EXISTÊNCIA?” — Caio Fábio
Transcrição: José Abdon Luna Accioly
Revisão: Fausto Roberto Castelo Branco
Novembro de 2008
(Mensagem Transcrita)
Texto Bíblico: Jeremias 18-19
Jeremias assiste, em estado de tristeza e perplexidade, o fato de que o povo de Israel estava sendo levado para o cativeiro na Babilônia, e, conquanto tal fato ainda não tivesse acontecido, mas estava na inevitável iminência de acontecer, ele sabe que a razão daquele cativeiro decorre de maneira direta do fato de que o povo tinha quebrado toda a harmonia com Deus e uns com os outros; que tinham entrado em um estado de autofagia, de morte, de escolhas suicidas, autodestrutivas.
E o que estava vindo de fora nada mais era do que a conseqüência do que eles mesmos estavam semeando. E a aflição de Jeremias era ver se ele conseguia mudar esse fluxo, se conseguia fazer com que aquele caminho, aparentemente inexorável na direção de algo que lhes faria mal, poderia ainda ser alterado pela via da conversão da mente, pela via do arrependimento, pela disposição de uma mudança de caminho, de uma decisão que tinha que ser individual mas que haveria de se tornar comunal, coletiva, de todo o povo, na direção de que aquele processo inteiro no qual estavam vivendo fosse revertido pelo arrependimento, pela mudança de mente, pela metanóia.
E é por isso que ele insiste de maneira solitária, gritando, clamando, chamando, chorando, implorando, advertindo, colocando-se numa situação de motejo, de graça, na qual ele se transformava em tema de piada, em figura a ser vista apenas em sua estranheza, na sua exoticidade, na sua depressividade melada de lágrimas e na sua voz sempre tomada de nostalgia profética.
E ele, assim, torna-se uma pessoa a ser vista e interpretada como o que se pode fazer tornar-se aos sentidos de todos. Como louco, melhor seria, mas como ele não dá a chance de a loucura ser assim pregada nele como algo que nele se fixe, o que sobra para os demais e descontentes com ele — os quais são quase todos — é tentar minar a autoridade dele, o caminho dele, a vontade sincera dele para com Deus. Então tentam criar urdiduras de todos os modos, tramas, laços, malhas e redes, para ver se o prendem em alguma contradição, em alguma fraqueza, em alguma situação, que o afaste, definitivamente, da possibilidade de ser uma pessoa que exercesse a sua voz contra o fluxo da morte que estava instalado ali.
E no meio de tudo isso, e de tantas falas e situações semelhantes a essa, no capítulo 18, Jeremias ouve outra vez, dentre muitas vezes, a palavra do Senhor, que veio a ele dizendo o seguinte:
Dispõe-te, e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras. Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre as rodas. Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu. Então, veio a mim a palavra do SENHOR: Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? -diz o SENHOR; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel. (18:2-6)
Mais adiante, depois que Jeremias voltou e falou ao povo e às autoridades religiosas tudo quanto da parte de Deus tinha ouvido a partir dessa situação metafórica, simbólica, que se manifestara diante dele lá na casa do oleiro, o texto diz o seguinte:
Então, disseram: Vinde, e forjemos projetos contra Jeremias; porquanto não há de faltar a lei ao sacerdote, nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao profeta; vinde, firamo-lo com a língua e não atendamos a nenhuma das suas palavras. (18:18)
Jeremias ouve isso e diz:
Olha para mim, SENHOR, e ouve a voz dos que contendem comigo. (18:19)
Cada vez que ele profetiza fica pior para ele!
Aí o cenário muda um pouquinho. Ele faz algumas queixas para Deus, sente-se só, abandonado, perseguido, dolorido... Toda aquela coisa que pode acometer a qualquer um de nós, mesmo aos mais conscientes entre nós.
E então vem a ele outra vez uma palavra de Deus ante essa atitude de rejeição explícita, homicida, ferina e perversa das autoridades de Israel após terem ouvido a palavra de Jeremias, que dizia, da parte de Deus, que se alguma coisa tinha se estragado ali, ainda dava jeito, ainda havia chance. Era como se o barro, em estando na mão do oleiro, pudesse ser refeito e renovado, mas eles não quiseram ouvir essa palavra de regeneração, de re-entrega do ser às mãos de Deus para ser refeito. Eles não quiseram abandonar o ídolo da fixidez, da fixação imutável.
E aí vem a esse pessoal uma outra palavra de Deus, pela boca de Jeremias, que já não carrega a maleabilidade; já não carrega a possibilidade da mudança; já não traz o sêmen da mutação, da conversão, do arrependimento, de uma tomada de consciência que mude a existência deles e seja preventiva em relação a um monte de calamidades.
Por causa daquela postura fixa e homicida deles, vem agora esta outra palavra do Senhor:
Assim diz o SENHOR a Jeremias: ”Vai, compra uma botija de oleiro!" (19:1)
Lembrem-se de que no primeiro caso ele vai à casa do oleiro, chega à casa do oleiro e o oleiro está trabalhando. O barro está molhado. O oleiro estava trabalhando no movimento e na dinâmica do ato de fazer um vaso; portanto, essa é uma relação viva entre o oleiro, o barro e a possibilidade de o vaso aparecer. Já nesse segundo caso, não há barro molhado, não há nada em processo, não há nenhuma matéria-prima sendo moldada na mão de Deus. Não há nenhuma matéria molhada o suficiente para aceitar os vergamentos, as flexibilizações, os moldamentos, os surgimentos do novo.
Como eles escolheram a fixidez, a imutabilidade, o carma como existência, o direito perverso como mandamento para a vida, o status quo como vida eterna, poder como se fosse fé e controle como se fosse confiança; como eles escolheram o caminho do homem, que domina, e não o caminho de Deus, que guia; como a escolha deles foi por aquilo que é fixado e controlado por eles e não por aquilo que não está nas mãos de Deus e que não está no controle de nenhum de nós, Deus agora manda Jeremias ir, com algumas das autoridades dos anciãos do povo, comprar uma botija de oleiro.
Já não é mais uma visita à casa da transformação, já não é mais uma visita à casa das possibilidades, já não é mais uma visita à casa da criação; agora já é a visita à casa do souvenir. Já é a visita à casa do fixo, do acabado, do formado, daquele que não tem mais nada a nele ser acrescentado. É a visita à casa do indivíduo que diz: “Eu fiz a minha síntese e ela está fechada!” É botija pronta! É botija seca. É botija fixa! É botija terminada! É botija para consumo. É botija à venda.
“Vai agora e compra!”
Já não é mais “Vai e vê!”
Já não é mais “Vai e olha como o estragado pode ser curado! Vai e vê como aquilo que or um acidente se desmantelou pode ser refeito! Vai e visita a casa de todas as possibilidades e de todas as esperanças", porque os corações dos que ouviram disseram: "Nós não queremos mudança nem que venha das mãos de Deus, e contra quem quer que fale da parte de Deus acerca disso nós tramaremos e forjaremos planos contra ele, porque agora nós é que nos tornamos senhores da lei de Deus, dos negócios de Deus, das coisas de Deus, dos mandamentos de Deus, dos ritos de Deus; ou seja, nós nos tornamos religiosos e gerentes da religião! E esse cara vem aqui, querendo introduzir, a cada dia, a possibilidade de uma mudança, de um vaso novo! Não! Nós não queremos!"
E pelo fato de eles terem escolhido a fixidez, eles recebem o fixo, com todas as implicações do fixo. Com toda a sequidão do fixo! Com toda a imobilidade do fixo. Com toda a inadaptabilidade do fixo. Com toda a possibilidade de quebrar, de partir, de se pulverizar daquilo que é fixo.
O melhor barro, já que barro é barro, é barro molhado! Não existe pior barro do que barro seco! Barro botija! Barro acabado!
“Vai, portanto, e compra uma botija de oleiro, e leva contigo alguns dos anciãos do povo e dos anciãos dos sacerdotes. Sai ao vale do filho de Hinom, que está à entrada da Porta do Oleiro...” — que está do lado de fora! Há aqui um sarcasmo histórico e geográfico, porque o que há de interessante é que ele manda que essa botija adquirida em um lugar de venda de vasos, na presença das autoridades dos anciãos e dos sacerdotes de Israel (os quais foram os mesmos que haviam rejeitado a palavra anterior) seja, com estes, agora levada ao lado de fora dos portões de Jerusalém, para o lado de fora da Porta do Oleiro, que era de onde, antes, ele estivera vendo o movimento maleável de algo que podia, em se estragando, ser refeito. Mas agora a instrução é para que ele não fique na casa do oleiro, mas, ao contrário, vá para o vale do filho de Hinom, que hoje é um vale muito bonito em Jerusalém, mas que desde tempos imemoriais era um lugar estranho, maligno, assombrado, do ponto de vista da percepção psicossocial do povo.
E por quê?
Porque era um vale onde muitos reis de Israel tinham imolado seus filhos e os oferecido em sacrifício a Astarote, a Moloque, a Baal, aos deuses do imediato. E se tornara um lugar marcado por este estigma da morte. Um lugar onde as pessoas sofriam do surto de que era possível, levando o próprio filho, fazer uma barganha com a divindade; com divindades que, em fazendo barganhas com o filho de alguém, só pode ser o diabo. Mas isso tudo era para manter o fixo:
“Eu dou meu filho, mas tu não me tiras o reino!”
“Eu dou meu filho, mas tu me fazes ganhar esta guerra!”
“Eu dou meu filho, mas eu quero como garantia a imutabilidade do meu poder!”
E aí Jeremias recebe a instrução para não ficar na Porta do Oleiro como antes, mas ir para o lado de fora, para esse vale, que, mais tarde, no Novo Testamento, passou a dar apelido simbólico àquilo que nos dias de Jesus se chamava de Inferno!
Vale de Hinom, que era o lugar onde se queimava o lixo da cidade depois de um tempo. Ele ficou tão maldito que virou “lixão”!
Geinom = Vale de Hinom, de onde acabou vindo a perversão, com o ganho de uma conotação à palavra que se tornou geinom, geena, inferno, na tradução. Porque era um lugar da queimação do lixo, onde o fogo não cessava, e cresceu no imaginário do povo como o lugar do inferno, geena.
É lá pro Geena, pro Geinom, pro vale do filho de Hinom, pro lugar da barganha, para o lugar do negócio com os deuses da morte, da fatalidade, da fortuna, da mágica, da troca, da negociação perversa, do “toma lá, dá cá”, de um vínculo com uma divindade extremamente maligna porque vem a se saciar apenas com sangue humano, bens humanos, e que introjeta na alma humana a vontade de autonomia fundada numa relação mecânica com uma suposta divindade que, em sendo atendida em determinados ritos, realiza mecanicamente o desejo do ofertante; portanto, são as divindades da garantia do fixo.
“Vá lá! Com esse vaso pronto, acabado; e quando tu chegares lá, depois de dizeres algumas palavras...”
No Capítulo 19, versos 10 e 11, lemos:
Então, quebrarás a botija à vista dos homens que foram contigo e lhes dirás: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Deste modo quebrarei eu este povo e esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se, e os enterrarão em Tofete, porque não haverá outro lugar para os enterrar.
Do ponto de vista histórico, o contexto imediato do que aqui estava sendo descrito tem riquezas tão grandes que se eu fosse falar a respeito nós não sairíamos daqui hoje. Mas meu objetivo mais simples é simplesmente ver se a gente aprende o princípio, porque o princípio é imutável.
O princípio espiritual está estabelecido. Os aplicativos é que podem variar de geração para geração, de tempos em tempos, de eras em eras, mas o princípio não muda!
Que princípio é este que está sendo anunciado e enunciado ali?
Primeiro: neste mundo caído, ambíguo, relativo, marcado por morte, por contradições, há desfazimento, há desmantelamento, há perda de forma, há desconstruções, há momentos em que a gente pensa que aquilo que estava ganhando determinadas formas e significados para nós subitamente se perde. Há momentos nos quais aquilo que a gente chamava de bom, de repente, por alguma razão, por algum acidente, por algum movimento, por alguma rotação, por algo brusco, por qualquer que seja a circunstância, se desfaz! É algo normal! Acontece!
É normal que a vida que se oferece a Deus como um barro maleável sem dizer “Eu sou assim”, “A minha forma é esta”, “Faze-me deste jeito”, “Configura-me desta forma”, sem oferecer projetos, nem maquetes, nem croquis ao Criador. Ao contrário, a existência que chega absolutamente leve, tranqüila, entregue, sabendo que ela própria não é auto-existente: se ela é barro, é porque ele criou o barro; se ele está úmido e pronto para ser maleável, é porque a graça divina o tornou assim, capaz da flexibilidade, e, portanto, eu não posso ter idéias a dar a Deus, não posso ter esquemas a oferecer a Deus, não tenho projetos a apresentar diante dele.
Eu tenho apenas a mim mesmo, melado, molhado, entregue como massa primal na mão do meu Criador, sem me sentir acabado; sem desejar ser removido desse lugar de fazimento, maleabilidade, construção artesanal e de manufatura divina. Sem querer ser tirado deste lugar até que eu esteja absolutizado e completado nele. Porque eu sei que no processo, eu, por causa da minha própria natureza, vou ter quebras e vou ter desmontes — vou mudar de formas. Vou precisar de uma ação contínua de sentidos e de significados da parte de Deus me moldando para sempre.
Isso significa arrependimento, metanóia, mudança de mente. Significa ter, conforme Paulo diz em Romanos 12, “a mente suscetível a uma renovação contínua e constante, uma não-fixidez da mente em nenhum padrão”.
Significa não nos conformarmos com este século, com os padrões estabelecidos, com os ícones, com os ídolos, com os panteões, com os elementos fixados, que lutam para que a gente assimile a imagem do ídolo e perca a nossa própria identidade.
Ao contrário, a disposição precisa ser aquela do arrependimento, da renovação do entendimento e da não-aceitação de nenhuma conformação que venha de fora, porque a gente só quer o trabalho da forma de Deus construído em nós a partir da essência para o lado de fora, e que é contínuo e dura para sempre, e acerca do qual a gente tem que dizer: “Eu combati o bom combate, eu completei a carreira, eu guardei a fé.”
Do contrário, a gente vira esse vaso fixo na vitrine da mentira, das vaidades, dos enganos, dos falsos significados, das falsas seguranças, achando que é o poder de controlar a lei, a religião, os ritos, as mecânicas espirituais, os homens... E achando que são as imantações de poderes que a gente recebe, as quais nos são dados por outros, e são frutos das nossas barganhas e negociações das nossas políticas relacionais, que são os elementos importantes e essenciais a serem preservados. Só que são justamente eles que nos tornam a botija fixa da cristaleira da existência, a qual fica pronta para ser partida e não ter mais jeito!
Na vida, a gente tem escolhas!
O que eu estou dizendo é que ou a gente escolhe o caminho da existência inacabada, ou a gente escolhe o caminho da existência supostamente acabada!
Ou a gente escolhe o caminho da viagem sem fim, da mudança nossa de cada dia, da conversão nossa de cada dia, do refazimento da nossa mente, do nosso entendimento a cada dia, da massa molhada da graça, da humildade, da vontade de aprender, de absorver, de assimilar, de ser meladamente transformado nas mãos de Deus e fazer a escolha de não querer ter nenhum outro lugar para ser e existir senão nesse ambiente da mão do Oleiro...
Todo dia e para sempre!
Ou sobra-nos a alternativa da falsa segurança. Da botija que diz: “Eu nasci assim, vou morrer assim, sempre ‘botijela’”.
Sem transformação!
“Meu negócio é salão de exposição! Eu quero ser vaso, mas não nas mãos do Oleiro. Eu quero ser vaso no ateliê da religião, colocado como vaso na vitrine da moral. Quero ser como vaso das aparências. Quero ser como aqueles para quem todos olham e dizem: ‘Este controla a sua própria vida’. Eu quero ser aquele ser invejável pela minha capacidade de autodeterminação e de fixação de meus próprios ideais”.
O caminho pode ser esse, onde você é o oleiro de você mesmo, e onde você é um vaso de autocoletamento de orgasmo narcisista.
Vaso narciso!
Vaso acabado!
Você quer ser um china [um vaso perfeito de porcelana chinesa], no qual não há mais retoques a fazer? Mas se cair no chão e partir, também não há cura!
A escolha da gente é saber se a gente quer estar sempre no lugar da cura ou se a gente quer ficar na nossa fixidez, no ambiente onde o que quebra não tem mais jeito.
Fora das mãos do Oleiro, o que quebra vira caco.
Na viagem da vida, até o último dia da minha existência, eu vou querer que o pedal do Oleiro não pare, movendo esta roda da vida sobre a qual eu estou. E eu pedirei a Ele que o barro do meu ser seja capaz de mudança ainda no último segundo de minha existência.
Que nada se fixe em mim!
O meu pedido a ele é que nada me remova dessa roda da graça e da misericórdia, a qual existe nas mãos do Oleiro.
E que eu jamais caia no engano das falsas seguranças, das botijas supostamente acabadas, vendidas nas vitrines das vaidades, e que não aceitam e não querem nenhum tipo de alteração, porque elas simplesmente dizem: “Eu me basto!”
QUAL A ESCOLHA QUE VOCÊ VAI FAZER?
A escolha por ficar nas mãos do Oleiro, a escolha pelo inacabado, pelo flexível, pelo maleável, a escolha pelo regenerável?...
Ou você vai fazer a escolha do fixo, do definido, do acabado, do pintado, do estético, que já não tem mais nada a ser acrescentado, que está posto como um ídolo “imexível” em algum lugar de “reluzência” de engano?
Porque a vida inevitavelmente mostra, tanto para barros em processos como para vasos acabados na presunção de terem sido terminados, que acidentes acontecem. Só que acidentes do lado de cá acabam sendo uma contribuição na roda da mão do Oleiro para que tudo contribua para o bem do vaso que ama a Deus. Mas do lado de lá vira farelo! Não sobra nada!
Portanto, qual a escolha que você vai fazer?
Eu espero que você não se levante e diga: “Forjemos plano contra o Caio! Quem é ele para dizer o que é certo? Quem é ele?”
Você pode até dizer isso, mas saiba que este Caio aqui é apenas um barro usado, gritando de dentro da roda! Feliz com as pedaladas! E não quero nunca estar acabado! Porque, saiba, no dia em que eu disser que estou terminado, esse é o dia da minha morte!
QUAL A ESCOLHA QUE VOCÊ VAI FAZER?
É de aceitar e de buscar, todo dia, a revisão da consciência em fé; deixar o evangelho entrar em você, moldar você... A mão do oleiro formatando você todos os dias! E essa é uma tarefa de humildade existencial constante, porque humilde é aquele que aprende, que se deixa moldar!
E esse é um caminho até o fim da vida! Mas esse caminho da humildade traz dor. Ele implica em você dizer muitas vezes que estava errado. Ele implica em aceitar novas rotas.
QUAL O CAMINHO QUE VOCÊ VAI ESCOLHER ENQUANTO A RODA ESTÁ GIRANDO, ENQUANTO A ÁGUA ESTÁ NA MASSA?
Enquanto o barro está nas mãos do Oleiro, qualquer distorção tem cura, mas se você disser: “Eu não quero as mãos do Oleiro”, “Eu não quero a graça”, “Eu não quero arrependimento”, “Eu não quero consciência”, “Eu não quero conversão”, “Eu não quero crescer”, “Está bom este teto”, “É assim que eu me satisfaço”, “Eu me basto aqui”, “Qualquer mudança ou aventura podem me levar para um lugar de insegurança e eu adoro saber que eu estou fixado e daqui ninguém me tira!” — se esse for o seu caminho, se essa for a sua escolha, meu amigo, vire malabarista, mas a vida não vai deixar, porque as sacudidas que vêm tanto desmancham barros maleáveis como quebram botijas que não têm mais conserto.
E a única coisa que faz diferença é: Onde você está?
Na autonomia das prateleiras da sua própria arrogância?
Ou rodando na graça de Deus, maleavelmente; nas mãos do Oleiro, onde tudo pode ser refeito?
Escolha você conforme a sua consciência.
E escolha conforme a vida.
Oração final:
Que o Senhor eterno, o Deus que é,
que está acima de todo pensamento e reflexão,
explicação, teologia, sabedoria
ou qualquer que seja a viagem humana...
Que o Deus único, vivo e verdadeiro
Que não é encontrado se não se revela,
e que tem se revelado abundantemente a todos nós
pelo seu Espírito;
ao Deus de todos os homens,
ao Deus de toda graça
ao Deus de toda Terra,
a ele, em quem tudo subsiste
e de quem tudo se origina,
sejam a honra, a glória e o louvor
pelos séculos dos séculos.
Que o Espírito dele nos encha de vida
e de disposição de sermos apenas material molhado e maleável
nas mãos do amor de Deus.
Em nome de Jesus,
hoje e sempre,
Amém.
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Mensagem: “QUAL A ESCOLHA DA SUA EXISTÊNCIA?” — Caio Fábio
Transcrição: José Abdon Luna Accioly
Revisão: Fausto Roberto Castelo Branco
Novembro de 2008
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