sábado, 27 de setembro de 2008

UM ANO A MAIS COM PAPAI, O GRANDE CUMARÚ!


"Convém-vos que eu vá…"


Papai era como um pé de Cumarú.

Largo, denso, amplo, entrado nas alturas, profundo nas raízes, forte no tronco, imenso, acima das demais copas; um abrigo contra a tempestade, um refúgio contra o vento, uma madeira de lei; durável, resistente, imutável; sempre no seu próprio lugar, porém, atrativo.
Assim é o Cumarú. Assim foi papai.

A única preocupação que papai tinha era com os filhos e netos, pois, de algum modo, ele sempre soube que mamãe ficaria bem apenas porque estava bem.

Hoje, um ano depois de ele ter ido, se pudesse, diria a ele:
Paizinho! Foi bom o senhor ter ido!
Sim, Paizinho! Foi conveniente que o senhor tenha ido, assim como foi conveniente para os discípulos que Jesus fosse, ainda que eles jamais pudessem antes de tudo sequer vislumbrar qualquer que fosse o beneficio que dali decorreria.

Pai! Porque o senhor foi, tudo o que antes os filhos do Cumarú davam como fruto certo de sua sombra sempre viva, agora, todos tiveram que lutar para ter; e, paizinho, foi muito bom.

Os filhos e netos que poderiam preocupar estão todos bem. Todos estão melhores. Todos cresceram. Todos começaram a se definir. Todos estão mais adultos. Todos estão mais independentes. Todos estão descobrindo que o maior legado do Cumarú não é a sua sombra, mas sim a natureza firme que é o seu legado para os Cumaruzinhos.

Papai! Estou grato e feliz pelo fruto de sua vida.

Todos os seus estão bem, todos estão melhores, todos estão mais seguros, todos cresceram mais neste ano de sua ausência do que em anos de sua ajuda!
Era por esta razão que o senhor queria também ir. Preocupava-se; porém, eu sei que mais do que tudo, o senhor confiava nos cuidados invisíveis.

Pai, até a mãe está irreconhecivelmente bem!

Depois que o senhor foi [ah!], ela escreveu um livro, um lindo livro sobre a história de vocês. E o senhor ficaria alegre de ver a qualidade do livro em todos os sentidos. O senhor ficaria orgulhoso de sua velha.
E mais: ela vai à sua sepultura todas as semanas, não para chorar, mas para se alegrar, pois, papai, até o senhor amaria a sua própria tumba. Creia: ela não é um sepulcro, mas emana a luz de um monumento à vida. Pai, quem vai lá fica com vontade de não mais sair, e não falo de nós, os seus, mas até dos que passam, param, sentem, e dizem: Que lugar é este?
Pai, o senhor pode imaginar a mamãe reformando a casa toda depois de sua partida? Pois foi isto que sua velha fez. E quando uma tempestade destelhou boa parte da casa, ela não se desesperou, antes retelhou tudo.
Ela, sai, prega, visita os doentes, consola tia Elvira, que, com sua partida, sentiu que ela mesma já deveria ir. Mas sua velha, pai, consola a todos.
As plantas dela nunca estiveram tão belas. Sobre seu monumento à vida, que acidentalmente é a sua tumba, ela plantou umas roseirinhas mínimas, cujos botões ela colheu aqui na minha casa em Brasília.
Yara, Ângela, Lucilia — entre outras amigas de mamãe, estão sempre lá; e dão aquela cobertura que somente filhos sabem dar.
Ontem mamãe me disse que comprou um computador para ler o site, ouvir a rádio e ver a televisão Vem e Vê TV. E mais: disse-me que vai botar a melhor banda de Internet que puder, pois, enquanto tiver vida, diz ela, vai usar também a Internet para divulgar a Palavra.
A santa velhinha não cessa de dar fruto!

O senhor lembra de quando a Aninha queria sair de Manaus no inicio dos anos 90 e o senhor estava sofrendo com isso? Lembra que chamei o senhor de velho Cumarú?
Pois, meu velho Cumarú de amor e cuidados, era essencial que o senhor fosse agora, assim como foi essencial que ela tivesse ido também, quase vinte anos atrás, saindo da sombra do Cumarú a fim de encontrar o sol da sobrevivência.
À época eu disse:
Seu velho Cumarú! Deixe o vento varrer seu cumaruzinho para longe, pois, Cumarús são tão grande e forte, que seus filhos somente encontram luz fora de suas densas copas.
É! Somente as tempestades salvam as novas gerações de Cumarú, pois, é o vento da tormenta na floresta que semeia as sementes do Cumarú para bem longe de sua sombra.
Assim, meu Grande Cumarú, sua ida, abriu os espaços antes impossíveis de serem sequer sentidos como desafio à ocupação, pois, sua farta presença, supria tudo, mas não dava a eles a chance da falta de copa, da falta de sombra, as quais, nem podiam ser por eles vistas como coisas temporais; mas, uma vez que choraram o fato de que o pé do Grande Cumarú caiu na floresta, enxugaram as lágrimas, e, quando viram, estavam crescendo, cada um por si mesmo, cada um conforme seus dons.

E mais, meu Grande Cumarú:

Seu médico, o Dr. Marcel, hoje é meu irmão na fé, filho da mamãe, irmão da Suely, da Ana e tio de seus netos. Ele ficou na ausência da sombra do Cumarú; mas, foi no lugar de seu chão, que ele mesmo encontrou o pouso para a sua semente virar árvore frondosa na fé que o senhor em força e fruto semeou.

Eu, meu pai, sinto o senhor cada vez mais forte em mim, e, estranhamente, muitas vezes, sinto que o que emana de mim é aquilo que no senhor era fruto natural.
Meu paizinho Cumarú! Quando eu crescer um pouco mais, espero ficar mais parecido ainda com o senhor.
Com você, minha velha árvore, aprendo o meu lugar neste mundo, e, também, aprendo a hora de deixar, de sair, de esperar, de crer, de não se abalar, e de ver glória em tudo, pois, fé de Cumarú sabe que é na morte que a Grande Árvore mais dá fruto.

Outro dia a sua bisnetinha, a Hellena, me perguntou se Jesus não poderia dar um recado para o senhor. Eu disse que sim. Que ela somente tinha que falar. Então ela falou: "Bivô! Aqui está tudo bem!"

É isto meu amor, minha árvore, meu pai e meu alento!

À semelhança de Jesus o senhor sabia o que dizia:
"Convém que eu vá, pois, se eu não for, não ninguém crescerá no espírito, o que, agora, será muito melhor para todos!"

Hoje já passei ali na sua muletinha, que veio aqui para a minha casa, e, como faço todos os dias, cheiro os anos de seu suor no descanso da muleta.
Ah, meu Pai! Seu cheiro de homem de trabalhos está impregnado em sua muleta. Eu aspiro seu cheiro como aroma de louvor ao nosso Pai.
Paizinho, obrigado pelos 81 anos de vida de madeira de lei que o senhor nos ofereceu!
Hoje me sinto cada dia mais forte na mesma força que fortalecia a sua fraqueza!
Papai, Deus é realmente lindo, como o senhor falava não em excesso de palavras, mas como experiência de contemplação.
Hoje não falo de sua partida. Falo das bênçãos de sua entrada na Casa do Pai, no jardim de todos os Cumarús.

Assim, hoje, apenas peço:
Jesus! Beija meu paizinho por mim, tá?

Caio
14 de setembro de 2008
Lago Norte - Brasília/DF
1º ano da partida do Grande Cumarú.

PARA LER:

































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